BLOG DO FIM DE ANO

Fim de ano, tempo de reflexões. Este ano, não farei o blog costumeiro de resumos de acontecidos no ano que se finda. Por alguma razão, estou com a impressão de que, apesar de todos os fantásticos avanços da ciência, que pelo menos trazem esperança, estou com gosto amargo na boca. Aquela sensação dificil de definir, talvez ansiedade, de que, apesar de todas as esperanças citadas, enquanto humanidade, estamos num desejo de volta à Idade das Trevas, que parece encobrir o mundo com manto plúmbeo ( e óbviamente eis que traduzo o que sinto numa escrita bombástica).

Vai daí que decidi simplesmente postar duas fábulas, que me fazem muito bem. A primeira é do Robert Fulghrum, que considero o maior filósofo americano vivo, está na minha lista de gente que quero conhecer pessoalmente, antes de morrer, e com certeza, minha alma gêmea. Descobri, ao ler uns dos livros dele, que compartilhamos o horror das “reuniões de staff”, onde acho que um monte de gente, usualmente inteligente, emburrece repentinamente e assim permanece até o término da citada. Ele, numa reunião de professores, na faculdade onde dava aulas, conseguiu dormir tão profundamente que caiu da cadeira e se esfaqueou com uma daquelas faquinhas de escoteiro, que estava perdida em seu bolso, e sobre a qual caiu. Nunca cheguei a esse preciosismo, até mesmo porque não carrego comigo faquinhas de qualquer espécie, mas já escorreguei de muita cadeira, cabeceei e até babei uma vez. A segunda união de almas é nossa paixão por subir em árvores. Ele, claro, sendo americano, é portador de carteirinha da “Associação Internacional de Trepadores de Árvores”, com sede em Atlanta, GA. Eu, mais modesta italo/brasileira, me contento em estragar a venda de uma casa. Foi absolutamente sem intenção. Pois bem, alguns anos atrás, tomada de espírito natalino, eis que decido, num dos imvernos mais frios que já passei em Houston, até nevou, enfeitar as duas árvores postadas em frente à minha casa. Assim, vestida no melhor estilo cebola, desde aqueles calçolões vermelhos do Pluto, até tenis bem velho, luvas e boina de pescador, preta que nem minha era, mas de marido, enrolada em fios e luzes, vou à luta. E lá estou, bem plantada no meio da árvore, tentando me desvencilhar dos fios que nessa altura estavam mais enrolados que meus pensamentos, na casa vizinha chega uma familia, marido mulher e 3 crianças, acompanhados da senhora da imobiliária, que a casa estava à venda. E assim, continuando enrolada mas natalina até a medula, solto um sonoro “Bem vindos! Feliz Natal”. E tento acenar alegremente, o que foi uma péssima idéia, pois perdi o equilibrio, que já não é lá essas coisas, e lá vim eu abaixo, ainda embrulhada na que deveria ser uma alegria natalina. Ao contrário do Robert, não sofri nenhuma concussão, só fiquei toda ralada. A familia sumiu. Então sem mais, aqui vai:

TUDO O QUE DEVERIA SABER NA VIDA, APRENDI NO JARDIM DE INFÂNCIA
"Tudo o que eu preciso mesmo saber sobre como viver, o que fazer, e como ser, aprendi no jardim-de-infância A sabedoria não estava no topo da montanha mais alta, no último ano de um curso superior, mas no tanque de areia do pátio da escolinha maternal. Vejam o que aprendi:
Dividir tudo com os companheiros.
Jogar conforme as regras do jogo.
Não bater em ninguém.
Guardar os brinquedos onde os encontrava.
Arrumar a "bagunça" que eu mesmo fazia.
Não tocar no que não era meu.
Pedir desculpas, se magoava alguém.
Lavar as mãos antes de comer.
Puxar a descarga depois de usar a privada.
Biscoito quente e leite frio fazem bem à saúde.
Fazer de tudo um pouco – estudar, pensar, desenhar, pintar, cantar e dançar, brincar e trabalhar, de tudo um pouco, todos os dias.
Tirar uma soneca todas as tardes.
Ao sair pelo mundo, cuidado com o trânsito, ficar sempre de mãos dadas com o companheiro e sempre "de olho" na professora.

Pense na sementinha de feijão, plantado no copo de plástico: as raízes vão para baixo e para dentro, e a planta cresce para cima – ninguém sabe como ou por quê, mas a verdade é que nós também somos assim.

Peixes dourados, porquinhos-da-índia, esquilos, hamsters e até a semente no copinho plástico – tudo isso morre. Nós também. E lembre-se ainda dos livros de histórias infantis e da primeira palavra que aprendeu, a mais importante de todas: Olhe! Tudo que você precisa de saber está por aí, em algum lugar. A regra de ouro, o amor e os princípios de higiene. Ecologia e política, igualdade e vida saudável.

Escolha um desses itens e o elabore em termos sofisticados, em linguagem de adulto; depois aplique-o à vida da sua família, ao seu trabalho, à forma de governo do seu país, ao seu mundo, e verá que a verdade que ele contém mantém-se clara e firme. Pense o quanto o mundo seria melhor se todos nós – o mundo inteiro – fizéssemos um lanche de biscoitos com leite às três da tarde e depois nos deitássemos, sem a menor preocupação, cada um no seu colchãozinho, para uma soneca. Ou se todos os governos adotassem, como política básica, a ideia de recolocar as coisas nos lugares onde estavam quando foram retiradas; arrumar a "bagunça" que tivessem feito.
E é verdade, não importa quantos anos tem: ao sair pelo mundo, vá de mãos dadas, e fique sempre "de olho" no companheiro."

E a segunda parte, a fábula O SÁBIO E A VERDADE, não faço a mais remota idéia de quem seja, mas a escutava em muito bom italiano, de meu nonno Brando, que me ensinava que as verdades não precisam necessáriamente serem enunciadas como murros no nariz, grande professor esse meu querido “anarquista e ateu, graças a Deus”.

“Era uma vez um imperador que sonhou que tinha perdido todos os dentes. Acordou apavorado e mandou buscar um sábio, para que interpretasse seu sonho.
Senhor, que desgraça, exclamou o sábio, cada um de seus dentes caidos representa uma pessoa de sua família que vai morrer.
Mas que insolente! Berrou o imperador, e mandou chicotear com gosto o assim chamado sábio.
E mandou imediatamente que buscassem outro sábio.
Este chegando, e sendo dito do sonho, exclamou: Senhor, grande felicidade vos espera. Sua majestade terá vida mais longa do que todos em sua familia!
O rosto do imperador se iluminou e mandou que entregassem cem moedas de ouro ao sábio.
Um dos presentes, o curioso que sempre existe em qualquer lugar, ficou intrigado e foi falar com o sábio.
Como foi que isso aconteceu, perguntou ele. Sua interpretação foi igualzinha à do primeiro sábio, mas o tal levou chicotadas e você levou ouro!
Meu amigo, respondeu o sábio, tudo depende de como se veem as coisas.”

E assim, manto plúmbeo desaparecido, vos desejo que, em 2016 , ousem ver as coisas, saiam pela vida de mãos dadas, e se atrevam a escalar árvores.

Beijos

Patrizia

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